O Medo de Dar Certo
Por R.S. Degan
Costuma-se falar muito sobre o medo de fracassar. Sobre a ansiedade que paralisa, a dúvida que impede o primeiro passo, o receio de tentar e cair. Mas há um outro medo — mais discreto, menos confessado, e talvez mais difícil de enfrentar: o medo de dar certo.
Fracassar é familiar. A vida, com suas repetições e negações, nos treinou para o “não”. Desde cedo aprendemos a lidar com frustrações, a esperar o pior, a nos preparar para as quedas antes mesmo de vislumbrar o salto.
Só que, de vez em quando, o inesperado acontece: algo funciona. Um plano dá certo, uma porta se abre, uma ideia se encaixa. E, estranhamente, ao invés de comemorar, vem o desconforto. A dúvida. O medo.
Não é o fracasso que assusta agora — é o sucesso.
Por mais contraditório que pareça, o fracasso oferece um tipo de conforto. Ele não exige transformação. Permite que continuemos sendo quem somos, repetindo narrativas que já conhecemos. Quando algo dá certo, tudo muda. As desculpas desaparecem. A responsabilidade aumenta.
Somos chamados a sustentar o que construímos, a deixar para trás a versão que apenas sonhava. E isso assusta. Não porque não queremos vencer — mas porque talvez nunca tenhamos imaginado o que fazer se isso realmente acontecesse.
Dar certo exige mais do que coragem para tentar. Exige maturidade para permanecer. Porque o sucesso, diferente do que vendem por aí, não é leve. Ele é pesado. Cobra postura, constância, transformação.
E quem passou uma vida inteira se preparando para lidar com a queda, muitas vezes não sabe como sustentar o voo.
Ainda assim, há valor nesses instantes em que tudo se alinha. Mesmo que sejam breves. Mesmo que sejam raros.
Eles mostram que a lógica do fracasso não é absoluta. Que a vida, apesar de dura, tem frestas. Pequenos momentos em que a realidade se curva, o improvável acontece, e por um instante… tudo dá certo.
Esses momentos importam. Porque nos mostram que o caos não é total. Que, às vezes, o universo permite.
Não se trata de romantizar o sucesso ou negar a dificuldade. Mas de reconhecer que o medo de dar certo existe — e que, se não for encarado, pode nos prender à mesma vida que tentamos mudar.
Aceitar a possibilidade de dar certo é, em si, um gesto de coragem. É uma forma de dizer “sim” à vida — não porque ela promete, mas porque nós escolhemos continuar tentando, mesmo assim.