Um tesouro esquecido. Uma ambição desmedida. Um poder ancestral que nunca deveria ter sido libertado. A história de Elarion, e talvez a nossa, mudou para sempre por causa de um erro nascido da cobiça.
Quando comecei a escrever “Os Dragões Brancos, Volume 1: O Inverno de Elarion”, sabia que precisava de um momento catalisador — aquele ponto de virada que coloca o mundo em movimento em direção ao seu destino, seja ele glorioso ou trágico. Mas não queria que fosse uma grande batalha épica ou uma profecia sussurrada por oráculos. Queria algo mais humano, mais real. Queria mostrar como as maiores tragédias muitas vezes nascem de falhas simples e universais. E assim nasceu a cena que abre o livro: um ato de pura e cega ganância.
O Brilho que Cega
Imagine a cena: um grupo de piratas, liderados pelo infame Veyron “Mãos-Pálidas” Garreth, desembarca em uma ilha perdida, envolta em brumas e esquecimento. Eles não buscam conhecimento ou glória, mas riqueza. No coração de ruínas antigas, encontram algo que promete um valor incalculável: um obelisco de gelo escuro, pulsando com uma luz azulada e coberto de runas dracônicas. Para eles, não é um aviso; é um prêmio.

Quando pensei em Veyron, quis personificar a ganância em sua forma mais pura. A cobiça sussurra que o risco vale a pena, que as consequências são um problema para depois. Com a cimitarra em punho, ele não hesita. Ataca o gelo, movido pela promessa de um tesouro que o colocaria acima de todos os outros. Ele não vê a prisão, apenas o cofre.
Este ato, tão pequeno e humano, é o estopim da catástrofe. A ganância, afinal, raramente se preocupa com o que está trancado; ela só quer o que brilha.
O Monstro que Desperta
O que Veyron e seus homens libertam não é ouro ou joias, mas um pesadelo aprisionado por milênios. O obelisco se estilhaça, e da escuridão emerge o Terror Branco, um dragão colossal de escamas pálidas e olhos que ardem com a fúria de séculos de tormento. O ar congela, a realidade se parte, e o terror se torna a única moeda de valor naquele lugar.

O despertar do dragão é a consequência direta e brutal da ambição dos piratas. Eles queriam possuir o poder, mas foram consumidos por ele. Ao escrever essa cena, quis criar um lembrete poderoso de que existem forças no mundo — e dentro de nós — que é melhor deixar adormecidas. A busca incessante por mais, sem medir o custo, não apenas nos destrói, mas também libera nossos próprios monstros sobre o mundo.
O Preço da Cobiça
A recompensa de Veyron Garreth não foi um tesouro, mas uma tumba de gelo. Seu navio, o “Orgulho de Eelrebmurora”, torna-se um monumento congelado à sua própria loucura, e sua tripulação, uma coleção de estátuas em poses de terror eterno. O dragão, livre e sem rumo, voa em direção a um mundo despreparado, levando consigo um inverno que é tanto climático quanto espiritual.

Esta não é apenas uma história de fantasia. É um espelho. Quantas vezes, em nossa própria história, a ganância de poucos mergulhou muitos na escuridão? Crises financeiras, guerras por recursos, desastres ambientais… a lista é longa. Ao criar “Os Dragões Brancos”, quis que a narrativa nos forçasse a confrontar uma verdade desconfortável: os monstros mais perigosos não são aqueles com escamas e garras, mas aqueles que vivem em nossos corações, disfarçados de ambição e desejo.
A saga de Elarion começa com um erro, mas é a jornada para consertá-lo que definirá seus heróis e vilões. E nos lembra que, no final, a maior batalha é sempre travada contra a escuridão que nós mesmos libertamos.
O inverno chegou a Elarion. Descubra como tudo começou.








