Em uma de suas muitas jornadas pelo continente, o bardo Lorcan Briarwood escreveu o que muitos consideram uma das descrições mais belas e pungentes de Elarion. Suas palavras, encontradas à margem do Rio de Cascal, continuam ecoando como versos de uma canção antiga.
Abaixo, um dos trechos mais citados de seus diários — um hino silencioso à terra que jamais se rende ao esquecimento.

Excerto do Diário de Lorcan Briarwood, – Ano 1379 do Sol de Thalanur
‘”’ Há algo em Elarion que se recusa a morrer.
Talvez seja o modo como o vento toca os telhados de Avarenth — como se recordasse cada rei que ali se sentou, cada lágrima que caiu em suas pedras salgadas.
Ou talvez seja nas florestas, onde os galhos não apenas crescem, mas contam histórias.
Hoje, os meus pés levaram-me além da Colina do Orvalho, onde a relva ainda guarda o perfume dos primeiros reis. Ali, reza a lenda, Dravon Althorn contemplou o futuro pela primeira vez, antes de erguer sua espada contra o terror alado que governava estas terras. As árvores sussurram o seu nome com reverência.
Avancei até o coração verde de Elarion. A Floresta dos Reis não é floresta — é memória enraizada. A suas raízes tocam ossos de eras esquecidas, e a suas folhas dançam como coroas sobre os túmulos dos antigos.
Mais ao norte, encontrei o Jardim Althorn, onde o tempo parece preso em um sonho. As árvores, em vermelho e lilás, permanecem imóveis, como se recordassem a promessa dos elfos aos humanos: “Lembrem-se da beleza que defenderam.”
Mas beleza e dor andam de mãos dadas por aqui.
Cheguei ao Lago Elenar quando o sol ainda brincava nas águas. E mesmo assim… estrelas. Um espelho celestial, eterno, como se o próprio céu chorasse por tudo o que já se perdeu. Dizem que os deuses derramaram ali as suas últimas lágrimas após a queda de Thaldranor nos Vales. Eu acreditei.
Segui para o leste, onde o frio beija a pele com dedos de gelo.Os Picos do Trovão rasgam o céu como lanças ancestrais. Lá, um silêncio diferente governa. Não o silêncio da paz, mas o da espera. Algo ali respira sob a neve. Algo antigo.
Mais abaixo, vi a Cicatriz de Velgorn. Que dor ver onde antes havia vida e agora há apenas um vazio sombrio, latejante. Vi sentinelas dos Dragões Negros, olhos exaustos vigiando uma ferida que nunca fecha.
E, ao sul… Marshber, sempre envolta em névoas e sussurros dos mares. Mas foi lá que meu coração se calou.
No alto de sua colina de pedras pálidas ergue-se o Salão do Alvorecer, o maior templo de Thalanur, que meus cansados olhos já viram. A suas cúpulas brilham como alvoradas eternas, mesmo sob céu nublado.
Lá, preces transformam-se em luz. Lá, senti que o deus da renovação ainda caminha entre nós — e que, talvez, ele tenha chorado por Elarion tantas vezes quanto seus próprios filhos.
Mas nem tudo são sombras.
Nos portos de Avarenth, vi navios dos Dragões Azuis, suas velas como asas abertas, lembrando ao mundo que Elarion não teme o mar — o doma.
E pensei: que reino estranho e belo é este, onde cada passo ecoa com glórias e cicatrizes.
Elarion não é apenas um reino. É uma canção.
Uma que começa suave, se ergue em coro, cai em silêncio, e recomeça. “
— Lorcan Briarwood, escrito à margem do Rio de Cascal, sob o luar frio da terceira noite do mês de Lirien.